sexta-feira, 19 de junho de 2009

Parte minha, parte eternidade


Separo os lábios do pescoço alvo e até há pouco imaculado da jovem erguendo-me lentamente.
O sangue pinga para o chão de mármore com um som cadente e seco.
A lua pela janela aberta ilumina as gotas vermelhas que vão tingindo o chão com o meu pecado. Com os olhos fitos na sua face, desabotoo o botão do colarinho, pois o calor invade o meu corpo com o pedaço de vida que roubei.
A sua face... Uma jovem, uma criança, que por mais idade que tenha será sempre uma criança aos meus olhos e ao meu Ser que trilha esta Terra em penitência há tantos séculos...
Que faço agora? Que pensará ela do homem que a escoltou até casa?
- Sabes? - Digo-lhe com uma voz serena como se me pudesse ouvir. - Eu estou apaixonado por ti. Eu quero-te. Eu preciso de ti. Por isso faço-te parte de mim. Um dia, mais velha, quando as asas da morte te levarem existirás ainda em mim, com a paixão com que me quiseste beijar e com a paixão com que te "beijei".
«Sei que a uns metros para lá daquela porta tudo passará, tudo parecerão memórias longínquas e o meu Ser apelará pelo meu verdadeiro e eterno amor, Lilia WhiteMoon. Olho-te pela última vez, estranharás as marcas de sangue no chão, mas este sangue não será só teu, terá o meu, duas lágrimas misturadas com a tua vida...»
«Um dia, quando o tempo te tingir o cabelo de branco, e nos cruzarmos na multidão, passarei por ti como que em câmera lenta e tu não desviarás os olhos de mim. Quando sair do teu ângulo de visão, e a cidade retomar o seu ritmo, dirás para a pessoa que estará contigo: “Aquele homem tem alguma coisa de especial”. Terei pois; algo que é só teu, algo que te tirei esta noite sem pedir... Parte da tua vida...»
Visto o sobretudo e saio da casa sem olhar para trás. Tenho o meu Ser destroçado e a face rígida tentando enganar-me dizendo que tudo aquilo é superficial.


Autoria: Daimon DelMoona

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