quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Espiral

Os meus dedos percorrem sem pressa o deserto de pele adormecida.
Gemidos súbitos dão conta que sabes que estou ali.
Estou sentada abraçada a mim mesma.
O teu corpo cansado jaz numa selva entrecortada de lençóis e sangue.
O espírito está fortalecido por alguns dias depois de caçadas partilhadas.
O amor, sim nós amamos, é eterno e a sua intensidade ampliada ao infinito. Comparada com a dos mortais somos uma bomba nuclear de desejo e sede permanentes.
Acariciamo-nos como se de uma dança se tratasse, somos duas estátuas vivas que anseiam somente pelo êxtase da troca da quase doce morte que nos enlouquece e por segundos sucumbimos a uma espécie de extinção quase sonhada. Ardemos como duas velas, os fugidios fios de sangue no meio do frenesim cristalizam-se como cera.
Mergulho a minha boca no teu peito. Soltas um suspiro curto e profundo. Bebo de ti incansavelmente e perco-me outra vez.
Ergues-te e seguras a minha face como um cálice, fixas uma gota que escorre distraída dos meus lábios e sem aviso cravas os teus punhais no meu seio como uma criança sedenta e perversa.
Olhas-me enquanto uma ladainha desconexa entre a dor e o arder sem doer me invade.
Somos dois seres em simetria que se marcam com tatuagens de amor.


Mandrágora

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Vinde a Mim


Vinde a mim, vós que demandais a imortalidade; vinde a mim,vós que quereis conhecer os segredos dos deuses; vinde a mim,vós cujo desejo é reinar sobre todas as criaturas! Recebei o meu abraço - e tudo isto vos será dado...


Andrew Blackrose

segunda-feira, 29 de junho de 2009

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Vinho sem idade

Estava entre a doce e lânguida inércia do sono que teimava em levar a sua avante e o fio fino da consciência que puxava o pensamento para o seu lado.
Estava á beira da morte e sabia-o.
Estava feliz. Genuinamente feliz como nunca estivera em todas as minhas vidas especialmente porque a escolha era minha.
Pensar no sono eterno sempre foi um consolo.
No entanto até que a morte viesse...
Olhava fixamente para a esquina do quarto.
Lá estava ele em cima de uma mesa pequenina.
Um frasco vulgar de vidro com o sangue da "salvação", o teu sangue. Agonizo lentamente entre muitos e últimos fôlegos.
Escolhi partir.
O teu antídoto é e será sempre um presente envenenado.
E eu sei e sempre soube disso.
Sei também que se decidir viver estarei à tua mercê qual boneca num espectáculo horrendo em que a beleza extrema se confunde com um prazer insustentavél, não queremos olhar mas espreitamos sempre por de entre os dedos.
As luzes de alerta estão lá mas são sempre ignoradas.
Não tive tempo...(o que é isso para quem nunca teve outra coisa ?)..... de saber quem tu eras.
Renasci, não de um acto de amor, nem paixão nem piedade sequer.
Fui criada pela tua fome sem respeito nem permissão.
Andei´à deriva, escrava dos meus sentidos e da minha raiva todas estas eras.
Amei-te, pura e simplesmente com todos os exageros que a palavra implica...e mais alguns.
Ias e vinhas como sereia invertida que mantinha cativa a sua vitima.
O teu sangue e o teu sorriso esquivo eram as únicas migalhas Às quais tinha direito.
Foram séculos assim.
O meu corpo intacto pelo tempo não pensava nem pensa em partir.
Não concebe a sua autodestruição, como se de um conceito filosófico absurdo se tratasse.
A mente está esgotada, as memórias de tantos mundos vividos são insuportavéis.
Decidi então sem mais nem menos pedir gentilmente ao barqueiro que me colocasse as duas moedas nos meus olhos como pagamento adiantado pelo seu nobre serviço e que me levasse sem demora até a outra margem dum mar de névoa, do esquecimento.
Tu sentiste a dor qual pai sem raiz com os filhos que coloca no mundo e pela primeira vez surgiste do nada com "O remédio para todos os males"...disseste....
Tu próprio, o teu vinho sem idade.
Pediste-me sem súplica, sim porque és um vinho orgulhoso, que ficasse, que eu era parte de ti sempre.
Rasgaste a tua carne, não para a minha boca seca e marmórea mas para um simples e vulgar frasco de vidro.Uma humilhação quase póstuma, "Arrasta-te e vive!" sussurraste.
Limitei-me a sorrir.
Arrebatada por te ter vencido embora tu ainda não o soubesses.
Qual arrepio vieste e desvaneceste-te.
Olho para o frasco, o sangue é espesso e escuro, as janelas estão abertas, vejo os primeiros raios de Sol pela primeira vez em muitas mortes e com os olhos bem abertos de espanto qual criança maravilhada sou embalada pelo vento da minha última manhã.


Autoria: Mandrágora

Era noite na estação

Era noite na estação.
O calor do estio dura demasiado, para além do sol que lhe deu origem, o calor trespassa a noite, em tons de Vermelho e Negro.
Aguarda pelo próximo comboio. Nada se ouve, nem um som, nem uma ânsia, nem uma gota. Está sedento.O seu instinto alerta-o, forte, pressente.... tenta descodificar... Ouvem-se vozes, difusas...ao fundo...será imaginação?
Saiu da cidade há muitos anos e que se instalou, pacatamente, discretamente, vivendo a vida a dobrar pela metade do tempo que tem. Nada o fazia afastar-se do ambiente impessoal da cidade, mais seguro, por um lado, mais luminoso, por outro, o Vermelho nem sempre é Vermelho, pode ser Desbotado, o Negro nunca é Negro. Ao inicio estranharam-no depois não, estranham a sua reserva mas atribuem-na a falta de mulher. Pudera saberem o que acontecera antes, à mulher e a todos... Agora sim, tira o que precisa, refresca-se, não mais do que precisa, lentamente.
Ouvem-se vozes difusas, ao fundo, será imaginação? Nunca as tinha ouvido, desde que aqui chegou. Nunca as tinha ouvido, na verdade.
Eis que um som o distrai, um comboio que anuncia a sua chegada, em tons de Vermelho e Negro, o primeiro do calor, vital, o segundo da noite, noite, o dia do seu dia. A luz ténue perde progressivamente essa característica enquanto o som aumento, ao fundo, mais perto, a luz incandescente e o som, abriga-se...
Ouvem-se vozes, ao fundo, difusas, constantes... O seu instinto alerta-o, forte, pressente uma presença não presente.... tenta descodificar...
O comboio chega e para com um gemido de cansaço, saem pessoas, ligeiras, umas mais ligeiras que outras, ligeiras de menos. Ele levanta-se, caminha, na direcção das pessoas, ligeiras, umas mais ligeiras que outras, ele mais ligeiro, sacia-se, refresca-se, em tons Vermelho e Negro à luz metálica do luar.
O comboio já partiu.
Ele também, na direcção da aldeia, a pouca distância dali. Vai refrescado, ligeiro.
Ouvem-se vozes, ao fundo, constantes....uma presença, não presente...
As vizinhas olham-no como sempre o olharam, pensa ele enquanto passa por um pomar, de laranjas, de nome não de cor, que as laranjas têm tons de Vermelho e Negro, desde há muito, desde o primeiro dia de calor, vital, de noite, o dia do seu dia.
As laranjas brilham com um brilho metálico, à luz da lua, as laranjas e as bicicletas, algumas passam a esta hora da noite, ligeiras, umas mais ligeiras que outras, ligeiras de menos. Ele segue o seu caminho, ligeiro, mais ligeiro que as bicicletas ligeiras de menos, sacia-se, refresca-se, em tons Vermelho e Negro à luz metálica do laranjal.
Chega à aldeia, caminho longo apesar da pouca distância dali, já não tão refrescado, ligeiro.
Ouvem-se vozes, perto... será imaginação? O seu instinto alerta-o, forte...
Sobe as escadas até à água-furtada que alugou há muito, porto de abrigo, ninho escondido, em tons de Vermelho e Negro acetinado, metálico, à luz do luar. Tenta adormecer, porque o dia do seu dia faz-se noite no dia seguinte, em tons dourados e incandescentes, ao princípio ténues, depois mortais.
Está inquieto, ansioso, uma presença, não presente...o seu instinto alerta-o, forte...
Ouvem-se vozes, altas, perto...
em tons de Vermelho e Negro, nem uma gota. Está sedento.
Ouvem-se vozes, altas, perto...
DEMASIADO PERTO!!!!

Quando viu através da cabeça já decepada a estaca atravessar o seu peito, percebeu finalmente que aquilo que as pessoas complexas há muito esqueceram, não foi esquecido pelas simples. E que há muito, muito tempo, já havia laranjais, de tom Vermelho e Negro à luz metálica do luar.


Autoria: Paulo Lima

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Arcana

Arcana... Silente e pérfida rainha da noite, que ocultas no teu seio legiões de anjos e demónios (e eu, qual deles serei?). Mãe, madrasta, acolhes a vida e a morte impassível... Implacável senhora das nossas almas, as almas da noite, as almas dos filhos da Lua... Caçadas perpétuas, deixando atrás de si um rasto de sangue e mortes – porque matar é viver! E hoje não perecerei neste jogo fatal...


Autoria: Andrew Blackrose

Umbra et Imago

Sono ou vigília, meus irmãos? Eis a nossa condição... o mundo de aparências da vigília não é o nosso mundo, servos nos tornamos do sono, da escuridão que misteriosamente se encerra por detrás das pálpebras de seres imortais como nós! O sonho é o maior pesadelo da humanidade, sim... dessa humanidade de que nos afastamos certo dia mas que no fundo nos tornou ainda mais verdadeiros humanos e contempladores da humanidade e de seu secreto poder, que um qualquer mortal que deambule pela existência da vigília. Terrível destino este, mas também tão real. O preço é alto meus irmãos Nocturnus, mas a verdade e o sentido são feitos da mesma matéria dos sonhos e das trevas, infinitas possibilidades e infindável miséria...


Autoria: Nuno Beatriz

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Aprisionados

Aprisionados pelo desejo de sangue, que como um farol nos atrai com promessas de prazeres proibidos. Somos eternos. Para nós o passado é como o futuro, sempre presente. Ninguém pode desafiar a nossa palavra, pois a noite é o nosso domínio. Com a visão de um anjo, tomámos a profundidade do ser, tão levianamente como um mortal.


Autoria: Janus Moonhunter

terça-feira, 23 de junho de 2009

Como são belas


Como são belas as criaturas da noite!

Porque é que são as sombras que dão forma à luz?

Porque é que de dia sonhamos com a noite?

Porque é que para nós a luz do sol brilha mais quando reflectida na Lua ?

Porque é que procuramos a escuridão nos nossos prazeres mais íntimos?

Porque é que ela nos liberta?

Pudesses tu ver com os meus olhos.... e saberias as respostas.

Como são belas as criaturas da noite !


Autoria: Charles Hawk

Paisagem Interior


Ela rastreia através do meu olhar

Um interior em chamas

Não articula, amordaçada pelo silêncio

Com um interior em eterna tempestade.

Ainda em silêncio e o gesto marmorizado.

Em seu interior aguilhões aprofundam.

Irredutível frente ao próprio vórtice

A gritar ensurdecedoramente, enquanto lá fora...

Lá fora o mundo pasta...


Autoria: Luciana Waack

Por fim

E quando o rito da caçada não mais excitar os sentidos? Quando a eternidade esgotar as formas da imaginação? Por fim, o sangue será tão nu quanto esse corpo sem alma e vazio para além de todos os abismos.


Autoria: Andrew Blackrose

Melancolia

Estava sentada há tempo demais, com o olhar vago, fixo em alguém que agonizava à sua frente.
Não havia compaixão, nem sequer uma leve ternura por quem lhe tinha acabado de dar mais um êxtase.
Limpou o vinho imortal da boca e recuou algumas horas, queria reviver o sentimento intoxicante da caça, a seguir ao abraço é só o que a faz sentir viva.
Desde o renascer que tinha o hábito de querer sentir, percorrer a pele morna e macia a latejar nas suas mãos... geladas antes de mais um fim.
Nesse momento achava que devia dar algo em troca já que lhes tirava a vida.
Amar os inocentes, consumir-lhes a boca e depois...
Tudo parava, ficava só o frio, uma dor que de tão intensa se tornava surda.
Ergueu-se de uma poltrona igual a tantas outras, olhou ainda mais uma vez nos olhos daquele corpo quase inerte que gemia numa cama qualquer, depositou-lhe um último beijo e lambeu-lhe as feridas.
Depois saiu para a noite que era mais iluminada que o seu próprio espírito, sem esperar mais nada a não ser um sono sem sonhos.


Autoria: Mandrágora

domingo, 21 de junho de 2009

Remember


Darkness and Sadness

Filling my heart

The night is close and I’m falling,

Falling apart…

My love is gone

And soon I’ll be gone too

The world is empty now…

Without you…

My thoughts are being

Pulled away by the despair

That drowns me

I’m not living, I’m not dying

I don’t know who I am now!

If I could cry I wouldn’t

If I could be I wouldn’t

If I could fly I wouldn’t

If I could die I wouldn’t

Because…

Death is all around me

I can’t remember how it feels to live

The rain washed my face and I can feel it!

The blood runs through my veins and I can’t feel it!!!

I cut myself and I bleed

The blood reminds me of sunset skies

I feel nothing…

I’m empty! I’m nothing!

I’m dead! I’m alive!

I don’t know!

I can’t remember!

I’m just being what I must!

I’m not living my life!

I feel empty and disgraced!

I can’t remember your face…

Must I die? Must I live?

Must I know?

Can I remember all the pleasures of Life?

All the temptations of Death?

Can I remember?


Autoria: Misha

Nada mudou

Nada mudou, somos os mesmos, no entanto mais velhos.
Temos o mesmo reflexo, a mesma pele, no entanto mais distantes e mais frios.
Somos a mesma sombra, caminhamos no mesmo passo, no entanto mais sombrios e silenciosos.
Nada mudou, a noite é que ficou mais noite, e o sol deixou de brilhar, pelo menos para nós…Somos os mesmos de sempre, escondidos agora nas sombras silenciosas e, no entanto todo o nosso peito frio e morto grita…
Temos os mesmos sonhos, as mesmas ansiedades, os mesmos medos, no entanto somos mais fortes…agora.
Nada mudou, fingimos ser o que não somos, e, no entanto admiram-nos exactamente pelo que fingimos não ser…
Somos a mesma ironia, a ironia negra do destino, uma e outra vez, como se fosse mais fácil usar a máscara.
Nada mudou, somos os mesmos, as mesmas sombras negras que caminham lado a lado, as que protegem, as que matam, as que morrem…
Somos iguais, irmãos, semelhantes, demónios, anjos, errantes, vingadores, pecadores…
Nada mudou…


Autoria: Pandora DarkMoon

Procuro por ti

- "Salva-me", ouvi-te gritar.
Em todo o lado te procurei para te libertar da dor que sentias, do medo que te fazia tremer, mas apenas a tua voz ecoava à minha volta, longe do meu olhar.
- "Salva-me por fim", disseste à altura de um suspiro, e o não saber onde estavas fez-me perder a razão.
Corri em todas as direcções em que te julgava sentir, de braços abertos como se cego estivesse, na tentativa demente de talvez tocar o que não via e dessa forma libertar-te.
De encontro a árvores, rasgando a pele nas quedas sobre pedras quando sobre elas tropeço, toda a visão se foi e toda a dor a acompanha.
- "Onde estás?"
Só te ouço a ti, apenas isso me interessa, não quero mais nada, és a minha obsessão, a minha paixão.
- "Sinto-te próximo de mim, fala comigo."
Mantenho-me calado a ouvir estas palavras. Tenho andado às voltas, os meus joelhos são chagas abertas e por todo meu corpo tenho amálgamas de lama, sangue e galhos. No entanto dizes que estou a chegar a ti, confundes-me.
- "Sim, aqui mesmo."
Estaco instintivamente, e tento ganhar de novo a razão, abrindo de novo os olhos.
- "Olha para baixo, estou aqui."
Esboço um sorriso inconscientemente ao ouvir a tua voz e viro-me para onde indicas.
Lentamente a minha mente se lembra de ti e o que fizeste quando nos conhecemos.
Todas as memórias de quanto te odeio voltaram, mais forte que nunca.
E com todo o peso da minha bota, reduzo a pó o pedaço de espelho que tinha a meus pés.


Autoria: Griffin RedSky

Promessa

A noite já desceu sobre a cidade e tu, como todos os outros, deves estar a caminho de casa depois de mais um dia de trabalho.
Percorres as ruas a passos largos, a pasta negra balouçando pendurada nos dedos da tua mão.
Pareces tão cansado…ou será a tristeza que te desfigura o rosto dessa maneira…?
E és tão jovem, uma criança… Tens alguém à tua espera?
Eu espero que sim; que braços quentes aguardem por ti em casa, ansiosos para te receber.
Espero que tenhas alguém para te perguntar porque demoraste tanto tempo, e que te aninhe junto ao peito, e tu ouças o seu coração ansioso pelo medo de te perder, e te sintas vivo outra vez!
Porque hoje não vais chegar a casa tão cedo como esperavas.
Perdoa-me, eu não tenho escolha.
Prometo que não vais ter medo, nem dor, nem te recordarás de nada.
Prometo que esta noite pintarei um quadro com o que levar de ti. Uma bela paisagem…um céu estrelado, talvez, coroado por uma sublime lua cheia…!
Prometo-te que ficará lindo.
Será que um dia verás esse quadro exposto em algum lugar, quando passeares pela tua Arcana iluminada pelo Sol?
Reconhecer-te-ás nele? Ou achá-lo-ás estranhamente familiar? Ou será que te vais lembrar da noite em que desmaiaste no regresso a casa?
Quando dobrares o prédio ao final da rua, eu vou estar lá à tua espera.
Vou fazer-te mal, eu sei, mas eu compenso-te, prometo! Pintarei o quadro mais delicado e mais sublime, só para ti!
É que tu não sabes… mas eu não tenho escolha.


Autoria: Lília WhiteMoon

Noite sem fim


Como eu desejo que a noite durasse para sempre, que a escuridão envolvesse eternamente a minha alma, que a Lua e as estrelas fossem as únicas luzes no céu a traçarem o meu caminho. Para que , de alguma forma, eu me pudesse sentir... VIVO!


Autoria: Janus Moonhunter

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Uma outra memória


Janus levou-me a um dos parques de Arcana.
Sentou-se e com uma voz condescendente perguntou-me:
- Daimon, o que se tem passado contigo?
Ergui o olhar como que procurando as palavras exactas:
- Sabes, meu irmão, sinto que me falta alguma coisa. É algo que o meu Ser procura para ser completo. E... não consigo descobrir o que é.
O Vampiro sorriu. Disse-me de uma forma fraternal e nostálgica:
- Eu sei o que é. Também conheço essa lacuna. Foi o preço que pagámos ao dizer “sim”. Foi o que ficou jazido no leito onde renascemos. Sabes o que ao que me refiro, não sabes?
Claro que sabia, mas não queria assumir que pudesse ser isso, e respondi com o silêncio.
- Posso oferecer-te a minha companhia sempre que quiseres e quem sabe... uma caneca erguida? – Perguntou em tom de desafio.
Olhei para si. O seu sorriso sincero espelhava uma amizade profunda e antiga. Sorri também, aceitando a sua proposta, e dirigimo-nos ao bar. Naquela noite não procurei mais o que faltava em mim pois de uma maneira estranha sentia-me completo...


Autoria: Daimon DelMoona

Uma memória

Os anos passam no seu ritmo cadente e tal como um velho, relembro-me de episódios tão especiais, tal como a noite em que apresentei Arcana a Andrew Blackrose, o jovem vampiro que se iria tornar num dos meus mais fieis companheiros de aventuras.- Isto é Arcana – disse-lhe com uma voz paternal – O nosso território.Andrew olhou o horizonte urbano. Na sua face espelhava-se a sede de aventura pela noite, tal como um herói ao colocar o pé numa barca em busca de novos mundos.


Autoria: Daimon DelMoona

Parte minha, parte eternidade


Separo os lábios do pescoço alvo e até há pouco imaculado da jovem erguendo-me lentamente.
O sangue pinga para o chão de mármore com um som cadente e seco.
A lua pela janela aberta ilumina as gotas vermelhas que vão tingindo o chão com o meu pecado. Com os olhos fitos na sua face, desabotoo o botão do colarinho, pois o calor invade o meu corpo com o pedaço de vida que roubei.
A sua face... Uma jovem, uma criança, que por mais idade que tenha será sempre uma criança aos meus olhos e ao meu Ser que trilha esta Terra em penitência há tantos séculos...
Que faço agora? Que pensará ela do homem que a escoltou até casa?
- Sabes? - Digo-lhe com uma voz serena como se me pudesse ouvir. - Eu estou apaixonado por ti. Eu quero-te. Eu preciso de ti. Por isso faço-te parte de mim. Um dia, mais velha, quando as asas da morte te levarem existirás ainda em mim, com a paixão com que me quiseste beijar e com a paixão com que te "beijei".
«Sei que a uns metros para lá daquela porta tudo passará, tudo parecerão memórias longínquas e o meu Ser apelará pelo meu verdadeiro e eterno amor, Lilia WhiteMoon. Olho-te pela última vez, estranharás as marcas de sangue no chão, mas este sangue não será só teu, terá o meu, duas lágrimas misturadas com a tua vida...»
«Um dia, quando o tempo te tingir o cabelo de branco, e nos cruzarmos na multidão, passarei por ti como que em câmera lenta e tu não desviarás os olhos de mim. Quando sair do teu ângulo de visão, e a cidade retomar o seu ritmo, dirás para a pessoa que estará contigo: “Aquele homem tem alguma coisa de especial”. Terei pois; algo que é só teu, algo que te tirei esta noite sem pedir... Parte da tua vida...»
Visto o sobretudo e saio da casa sem olhar para trás. Tenho o meu Ser destroçado e a face rígida tentando enganar-me dizendo que tudo aquilo é superficial.


Autoria: Daimon DelMoona

quinta-feira, 18 de junho de 2009

O teu cheiro

O teu cheiro a canela não me chamou apenas a mim, mas a eles também... E deixaste-te ir, não sabendo o que esperar. Não viste o que me aconteceu por dentro, por isso agora sei como o mostrar... Não a ti, mas a mim mesmo. Os meus olhos estão cansados e inexpressivos a toda a hora... Apenas este ritual os desperta à realidade. É por isso que gosto de mostrar-me que ainda estou vivo, que tenho mão nas minhas acções.


Autoria: Griffin RedSky

Madrugada de Inverno


Madrugada de Inverno.

Da janela do meu quarto olho o jardim que envolve a nossa casa.

Os últimos farrapos de noite dissipam-se, as estrelas desaparecem no céu uma por uma.

Cheira a terra molhada, choveu a noite inteira.

O Sol ainda não nasceu…

Esta noite lembrei-me de tudo aquilo que já esqueci.

Esqueci o calor do Sol,

E a cor do mar,

Esqueci o sabor da comida,

E a frescura da água.

Como o vento do Outono arrasta as folhas das árvores,

A Noite Eterna em que vivo arrastou com ela todas as minhas memórias.

O primeiro raio de Sol rasga o Céu.

Fecho as portadas da janela.

Nasce mais um dia no Mundo.

Morre mais um pouco de mim.


Autoria: Lília WhiteMoon

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Praesentatio

Ab Initio

Somos a Alma da Noite com a face da Eternidade: Somos Vampiros, Somos Nocturnus...

Nox vobiscum!

Pretende-se, com este singelo espaço, contribuir para a divulgação do universo literário Nocturnus, através da publicação dos seus melhores textos e momentos.