quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Espiral

Os meus dedos percorrem sem pressa o deserto de pele adormecida.
Gemidos súbitos dão conta que sabes que estou ali.
Estou sentada abraçada a mim mesma.
O teu corpo cansado jaz numa selva entrecortada de lençóis e sangue.
O espírito está fortalecido por alguns dias depois de caçadas partilhadas.
O amor, sim nós amamos, é eterno e a sua intensidade ampliada ao infinito. Comparada com a dos mortais somos uma bomba nuclear de desejo e sede permanentes.
Acariciamo-nos como se de uma dança se tratasse, somos duas estátuas vivas que anseiam somente pelo êxtase da troca da quase doce morte que nos enlouquece e por segundos sucumbimos a uma espécie de extinção quase sonhada. Ardemos como duas velas, os fugidios fios de sangue no meio do frenesim cristalizam-se como cera.
Mergulho a minha boca no teu peito. Soltas um suspiro curto e profundo. Bebo de ti incansavelmente e perco-me outra vez.
Ergues-te e seguras a minha face como um cálice, fixas uma gota que escorre distraída dos meus lábios e sem aviso cravas os teus punhais no meu seio como uma criança sedenta e perversa.
Olhas-me enquanto uma ladainha desconexa entre a dor e o arder sem doer me invade.
Somos dois seres em simetria que se marcam com tatuagens de amor.


Mandrágora